Por Rômulo Corleone.
No último dia 28 de setembro, em Duque de Caxias aconteceu a mais grandiosa e emocionante cerimônia da Nação Efon no Brasil. A nossa matriarca, Àgbà Ìyálorisa Maria Lopes dos Anjos, comemorou seus 70 anos de iniciada a orixá Xangô em uma festa histórica, que também marcou a reinauguração do Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos. O evento reuniu um grande público, lotando o espaço sagrado Ilé Ògún Anaeji Ìgbele Ni Oman, localizado no bairro Pantanal. Essa festividade reforçou a importância da preservação cultural e religiosa da Nação Efon, resgatando e perpetuando a memória de seus fundadores.
O Memorial e a Preservação do Legado
O Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos é, agora, um espaço revitalizado e renovado, que guarda objetos históricos e artefatos ligados à ancestralidade Efon. A reinauguração do espaço é um marco importante para a preservação da memória afro-religiosa, mantendo viva a história de nossos antepassados e dos que vieram antes de nós.
O acervo, que inclui objetos pessoais e ligados à tradição do Asé, foi reorganizado e enriquecido, permitindo que novas gerações possam conhecer e reverenciar a história de Cristóvão Lopes dos Anjos e da Nação Efon. Para Mãe Maria, a reinauguração do Memorial é um sonho realizado: “Este é um espaço de memória e de resistência. Aqui, mantemos viva a chama de Xangô e de todos os que vieram antes de nós.”
A cerimônia foi repleta por momentos emocionantes. O Memorial, dedicado a Cristóvão Lopes dos Anjos, fundador do Ilé Ògún Anaeji Ìgbele Ni Oman, foi reinaugurado em grande estilo, retratando a trajetória de quem plantou as raízes da Nação Efon no Brasil.
A presença de figuras importantes do circuito afro-religioso e cultural reforçou a magnitude do evento. A força do orixá Xangô se fez sentir na entrega de Mãe Maria em seu transe e também na alegria que preenchia todos os presentes, que celebraram junto com toda a família do Asè Oloroke Pantanal, a continuidade de uma tradição ancestral viva.
“…O acervo reunido no Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos remonta uma história de dedicação, fé e culto ao Sagrado, reafirmando as raízes Efon, por meio de ações práticas de pesquisa, conservação e salvaguarda da memória ancestral desta Nação…”
Robson Bento Outeiro
Osí Ojú Alá d`Osogìyán
Diretor do Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos
O Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos é parte integrante do processo de tombamento do patrimônio material e imaterial do Asè Oloroke Pantanal, registrado junto ao IPHAN sob o #01450006600/2023-41. E, passou a integrar recentemente a Rede de Acervos Afro-Brasileiros do Museu Afro Brasil - Emanoel Araújo em São Paulo.
Mãe Maria de Xangô: Resistência e Vitalidade
Aos 76 anos, Mãe Maria de Xangô mostrou, mais uma vez, por que é a guardiã dessa tradição. Iniciada aos 6 anos por seu avô, Cristóvão Lopes dos Anjos, ela representa a continuidade de um legado que ultrapassa o tempo. Durante a cerimônia, ficou evidente que Mãe Maria não é apenas uma líder espiritual, mas a personificação da força e da vitalidade de Xangô. Sua presença, marcada por serenidade, pulso firme e pela sabedoria de quem carrega consigo mais de sete décadas de devoção é uma das mais importantes contribuições à história do candomblé no Brasil.
“Tudo o que sou devo ao meu orixá e aos meus ancestrais. Xangô é quem me dá a força e a vitalidade para continuar zelando pela Nação Efon e por este lugar sagrado”, disse Mãe Maria, emocionada. A frase resume o sentimento de uma mulher que, ao longo de sua vida, tornou-se um pilar de resistência e de preservação cultural.
Um Evento Histórico e Lotado
A magnitude do evento surpreendeu a todos. Pessoas vindas de diversas partes do Brasil se reuniram para prestar homenagem à Nação Efon, à Mãe Maria e a Xangô. A rua Eça de Queiroz, onde se localiza o Ilé Ògún Anaeji Ìgbele Ni Oman, foi tomada por fiéis e admiradores.
O Asè Oloroke Pantanal recebeu diversas personalidades que também compõem com a história do candomblé brasileiro, a exemplo dos descendentes do Parque Fluminense, casa tradicional que compõe com toda a história da Nação Efon devido às suas interações com o Asè Oloroke Pantanal. O clima era de gratidão, em um evento que será lembrado por muitos anos como um marco de resistência e devoção. A alegria e a emoção eram visíveis em cada rosto, confirmando que o Asè Oloroke Pantanal, conhecido como Axé da Felicidade, se fez sentir em cada canto do evento.
Mãe Maria, na celebração do septuagenário ano de trajetória religiosa, demonstrou sua capacidade enquanto matriarca e preservadora da identidade da Nação Ẹ̀fọ̀n. Ela mostrou o que é ser Omo Efon: ser filho da alegria! Iniciou com a reinauguração do Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos, que é um marco para a história da nação; por conseguinte, as homenagens recebidas tanto de àgbàs do Candomblé Soteropolitano, Paulistano e também do Fluminense, sendo visível a capacidade que essa senhora possui de constituir laços de amizade; por fim, com o majestoso Candomblé para Xangô, aquela celebração majestosa, arrepiante e afável. Um grande marco, de fato, para a memória do Ẹ̀fọ̀n e do Candomblé. O que não faltou, ademais, foram momentos para festejar. Lindo dia, linda celebração e lindos momentos.
Disse Caio Victorino, Pesquisador da História da Diáspora Afro-brasileira
A reinauguração do Memorial Cristóvão Lopes dos Anjos e a celebração dos 70 anos de Xangô de Mãe Maria foram uma demonstração de que a resistência cultural e a preservação da memória ancestral são fundamentais para a continuidade das tradições afro-religiosas no Brasil. O sucesso do evento reforça o legado de Mãe Maria como a guardiã da nação e de sua linhagem, assegurando que o Efon continue vivo e forte para as futuras gerações.
Palavras de Iyá Maria de Xangô
"Agradeço a Ogum primeiramente, ao espírito do meu Avô e a minha ancestralidade da Nação Efon, pois se eu não fosse escolhida por esses ancestrais, eu não estava aqui hoje neste lugar e nesse momento. Aos meus amigos, filhos, netos e bisnetos, minha família, meus Ogans, minhas Ekedjis, meus Yaôs, meu muito obrigado. Foi uma união conjunta, Olorun abençoou e me vi amparada por todos os lados. O Axé vivo estava presente, a força de Ogum e de todos os orixás, foi um momento lindo, todos nós de mãos dadas em prol da festa de Babamim Xangô, foi um momento inesquecível e minha emoção ainda está à flor da pele."
Um Legado de Resistência
Mãe Maria de Xangô é a própria resistência viva. Ela carrega o legado de Pai Cristóvão de Ogum e na alma toda força dos seus ancestrais. Sua trajetória, marcada pela sabedoria dos antigos, é o espelho da Nação Efon, uma memória que não se apaga e uma fé que nunca se curvou. Cada passo seu é uma reverência ao passado com um olhar firme para o futuro. Celebramos no dia 28 de setembro, não só 70 anos de Xangô, mas a força incansável de uma mulher que, como as rochas de seu orixá, permanece inabalável, preservando e propagando nossa cultura e nossa religiosidade para as futuras gerações.
É com muita alegria e honra que anuncio, que eu, juntamente com Alessandra Aquino, CEO da Editora Folha de Ouro, estamos trabalhando em uma obra biográfica de Mãe Maria de Xangô. Esse projeto irá mergulhar profundamente na trajetória de vida dessa grande matriarca, desde sua iniciação aos 6 anos até os dias de hoje, trazendo relatos detalhados, memórias afetivas e a história da Nação Efon, com um olhar sensível e cuidadoso sobre sua caminhada espiritual e sua contribuição inestimável à cultura e à religiosidade afro-brasileira.
Essa obra será um documento de resistência e preservação da nossa memória ancestral, uma oportunidade de conhecer mais de perto a força dessa mulher que carrega em si a vitalidade de Xangô. Fiquem atentos! Em breve, essa história será revelada em suas páginas, e esperamos que, assim como nós, vocês se sintam inspirados a mergulhar nesse legado.
Rômulo Corleone.
Artista Visual, Fotógrafo e jornalista afro documental.
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